Casa Curva

Tipo: Construção de Habitação Unifamiliar
Cliente: Privado
Localização: Vila do Bispo, Algarve, Portugal
Estado: Concluído
Autor do Projeto: Maria Fradinho
Equipa: Sara Garcia

Data de Projeto: 2022
Área do Terreno: 655 m2
Área de Implantação: 166 m2
Área Bruta de Construção: 220.5 m2
Artista 3D: Tiago Vieira da Silva

A Casa Curva localiza-se numa urbanização de Vila do Bispo, no Algarve, fazendo parte de um loteamento já consolidado. É, por isso, uma peça arquitetónica que mantém o enquadramento linguístico do local onde se insere, correspondendo a uma série de características que a integram na malha urbana envolvente.
É uma peça discreta e de baixa dimensão, com um piso acima da cota da soleira, onde se desenvolve a totalidade da habitação, e um piso abaixo da cota da soleira apenas para arrumos.
Localizado num dos extremos da Urbanização, o terreno é um dos mais pequenos do conjunto, o que se agrava com a forma curva da sua frente urbana, em rotunda. Por outro lado, o declive natural do terreno, que alcança mais de 2 m de diferença de cotas entre estremos, condiciona a composição arquitetónica impedido que esta se estenda para o limite sul do terreno.

Assim, a linha curva que compõe a fachada frontal deste edifício não é senão a própria imposição do lote, já que os limites de distanciamento às estremas, impostos pelo Loteamento, assim como as condicionantes de área do terreno e respetiva morfologia, obrigam a que a forma do edifício seja paralela à via pública, para se conseguir implantar um edifício de 160 m2 de ABC, conforme previsto no alvará de loteamento sem, com isso, abdicar de um logradouro capaz de satisfazer as  necessidades mínimas de uma moradia.
Os dois volumes que compõem a peça arquitetónica, um de áreas comuns e outro as áreas privadas, desenvolvem-se em forma curva, abrindo-se para o logradouro, como um livro aberto, para que ao invés de encerrar o logradouro se possa abraçar a paisagem, e recebe-la dentro do lote, ampliando as vistas e, assim, tornando o logradouro de pequenas dimensões num espaço mais generoso.

A fachada frontal quase cega, a Norte, é claramente contrastante com a fachada posterior, a Sul, que se abre totalmente para o logradouro em envidraçados de altura igual ao pé-direito livre, de 2,4m de altura.
Esta dicotomia representa de forma clara as intenções do projeto, sendo a prioridade a relação com o logradouro, em detrimento do arruamento.
Todo o edifício é branco, com a exceção do revestimento do hall de entrada exterior a norte, que demarca o ponto de ruptura com o espaço publico, fazendo a transição para o espaço privado através da demarcação cromática, em tom corten (piso, teto e paredes), assim como as caixilharias, que se propõem também em corten.
É um edifício com materialização simples, mas que pretende respeitar a tradição secular das chaminés algarvias, sendo que é proposta a edificação de chaminés ao estilo Algarvio, que adquirem destaque da composição formal pela sua evidência altimétrica.

Estas são desenvolvidas com formas diferentes para acompanhar a regra do desenho do edifício. Assim, são propostas duas chaminés onde uma admite base circular e outra base quadrada, sendo que os remates superiores admitem a forma contrária. Este é um jogo de formas descontraído, apesar do rigor do cumprimento das proporções das chaminés tradicionais.
Em suma, esta peça é extremamente eficaz na sua articulação entre as regras urbanísticas, o cumprimento do programa dentro de uma área controlada e a satisfação dos critérios de imagem de inserção na malha urbana envolvente, ao mesmo tempo em que é capaz de protagonizar um edifício elegante e subtil na sua forma e composição, que procura, sobretudo, satisfazer as necessidades de usufruto de um edifício que se abre para a paisagem de forma prazerosa.