Casa J

Tipo: Reabilitação e alteração de habitação unifamiliar
Cliente: Privado
Localização: Albergaria-aVelha, Portugal
Estado: Construído
Autor do Projeto: Maria Fradinho
Equipa: Ana Rita Luís, Jéssica Barreto
Data de Projeto: 2016-2017
Data de Construção: 2018-2019
Área do Terreno: 10300 m2
Área de Implantação: 650 m2
Área Bruta de Construção: 735 m2
Autor do Projeto Original: Fátima Martins
Arquitecto Paisagista: Jardins e Exteriores – Arthur Pereira
Créditos: Its – Ivo Tavares Studio

Este projeto resulta da intenção de reabilitar uma moradia unifamiliar, severamente afetada, ao nível dos interiores, por patologias resultantes de más opções construtivas. Para além da pretensão de corrigir as patologias existentes, pretendeu-se retificar as disfunções de organização espacial que apresentava.
Deste modo, a ambição do projeto foi alterar a moradia para lhe conferir novas condições de habitabilidade, garantindo que a mesma se tornasse mais versátil e com melhores acabamentos. Contudo, promoveu-se uma intervenção cirúrgica que toca apenas nos locais essencialmente necessários não adulterando, assim, a essência do objeto de arquitectura pré-existente.

O terreno onde se insere este projeto admite duas zonas distintas: uma urbana, confrontada com o arruamento principal, e onde se encontra implantada a moradia, e a restante zona rural, de uso florestal, onde se impôs a implantação de um novo espaço desportivo e de lazer- um campo de padel com zona ajardinada.
Este novo espaço vem na continuidade da intervenção prevista para o anexo, que agora se fecha em vidro, para se transformar em lounge de eventos, disponível para convívio entre amigos e família.
Todo o arranjo exterior foi reformulado, de forma a atribuir continuidade entre as duas realidades, separadas até então. Deste modo, uma nova ligação – franca e convidativa – une o lounge exterior ao campo de padel, num caminho ao ar livre que apela ao convívio.
O uso de estruturas metálicas para solucionar problemáticas arquitetónicas, tais como barreiras visuais e proteções solares, é influenciado pela profissão do Dono de Obra, ligado à indústria metalúrgica. A aplicação destas estruturas vem, assim, servir como elemento promotor da identidade do habitante.
Na fachada do anexo, executou-se uma estrutura metálica em pérgula, que se liga à moradia, fazendo o desenho da implantação do conjunto edificado alterar-se para uma forma de J, dando nome ao projeto. Esta pérgula cria a devida proteção ao anexo, permitindo que o seu uso seja prolongado para o exterior.
Para além desta criou-se, ainda, um plano vertical localizado na lateral poente da piscina, por forma a criar uma barreira com a vegetação que ali cresce e, assim, proteger aquele espaço de lazer das vistas indiscretas dos vizinhos.

Estas são as únicas alterações no exterior do edifício, já que todo o restante não foi intervencionado, por respeito ao conjunto projetado por outro colega e, sobretudo, por estar em bom estado de conservação.
Assim, as intervenções mais significativas residem nos interiores. Destas, destaca-se a redução do número de quartos, de quatro para três, onde todos passam a ser suites. As duas novas suites são compostas por uma zona de roupeiro que transita para a instalação sanitária de forma natural e contígua, através de uma parede em vidro, que unifica os dois espaços.
O novo desenho do alçado do corpo dos quartos foi cirurgicamente projetado por forma a corresponder às novas necessidades espaciais sem, com isso, desautorizar a lógica compositiva da fachada original.
A suite principal sofre uma ampliação do vestiário e uma completa renovação da instalação sanitária, adquirindo um novo vão, de maior dimensão do que o pré-existente, que garante a adequada ventilação e iluminação daquele espaço sem, com isso, perder a privacidade necessária.
Por último, mas não menos importante, propõe-se unificar a sala e a cozinha, derrubando parte da parede de betão que as separa, de modo a tornarem-se num só espaço, capaz de reunir a família, que até então vivia separada entre estes dois espaços.
Para que esta sala fosse efetivamente utilizada, o que não acontecia antes desta intervenção, foi essencial dota-la de características de conforto térmico e visual, para que ganhasse escala humana e, assim, fosse rompida a frieza do betão aparente, com pé-direito duplo que a sala apresentada. Para tal, reduziu-se o pé-direito da área habitável e criou-se um ripado de madeira capaz de conter sons e temperatura, ao mesmo tempo em que define com clareza um espaço confortável de estar, distinguindo-se da área de jantar, francamente mais relacionada com a cozinha.

Contudo, esta sala não seria ainda utilizada, se não houvéssemos intervencionado na fachada posterior do corpo da mesma (a norte), já que foi proposta a abertura de um novo vão de entrada, que garante um ponto de acesso desde o logradouro. Até então, a entrada fazia-se pela cozinha e ali se ficava, uma vez que era um espaço mais pequeno e, por isso, mais acolhedor e confortável, relativamente à sala. Esta nova ligação foi fundamental, já que o estacionamento de viaturas se faz por aquele lado.

Ainda assim, todas estas alterações não seriam suficientes para a reabilitação pretendida sem a correção das patologias construtivas existentes, sobretudo ao nível de infiltrações de água. Esta questão obrigou à criação de um sistema de filtragem de águas pluviais, com a criação de drenos no perímetro da moradia, sobretudo nas zonas que se constatava a presença de maior quantidade de água. Foi, ainda, garantida a devida impermeabilização de pisos e paredes, por forma a poder evitar as capilaridades constatadas.
Posteriormente a todo o tratamento anti infiltrações, todos os materiais de acabamento foram substituídos ou restaurados, com o objetivo de renovar por completo esta vivenda, dotando-a de critérios de pormenorização e rigor nos detalhes, aliados a uma escolha sóbria de tons e acabamentos dos materiais, para atribuir uma contemporaneidade ao conjunto edificado como se de uma nova casa se tratasse.