Quinta Avial

Tipo: Alteração e Ampliação de Edifício para Alojamento Local
Cliente: Privado
Localização: São Pedro do Sul, Portugal
Estado: Em construção
Autor do Projeto: Maria Fradinho
Equipa: Sara Garcia

Data de Projeto: 2022 – 2024
Data de Construção: 2024 – a decorrer
Área do Terreno: 5100 m2
Área de Implantação: 182 m2
Área Bruta de Construção: 308 m2
Autor do Projeto Original: Desconhecido
Artista 3D: Rafael Morais

O projecto localiza-se num terreno com características rurais, limitado a poente pelo rio Vouga. Enquadra-se numa paisagem construída caracterizada por socalcos tradicionais suportados por muros de pedra para a plantação de vinhas.
Inspirado num contexto rural, a Quinta Avial é um empreendimento turístico que reinterpreta o edificado existente incorporando as formas antigas com linhas modernas. Tanto os muros, o edificado pré-existente, como os próprios socalcos definem a essência do lugar e transmitem riqueza espacial e material. O projecto destaca-se pela conjugação desses elementos, assumindo um diálogo constante e harmonioso entre a pré-existência e a nova arquitectura, a partir de uma posição respeitosa e procurando uma linguagem de proximidade.

A nova proposta baseia-se na preservação e reabilitação das estruturas pré-existentes, valorizando-as e adaptando-as às novas circunstâncias programáticas. O conjunto é formado por três momentos distintos. Num primeiro momento, pretende-se reabilitar e adaptar o edifício pré-existente para as unidades de alojamento. Do ponto de vista da qualidade espacial, interessa manter ao máximo o existente e intervir apenas naquilo que é necessário, sem com isso se perder o carácter original do edifício ou ficar menos capaz de servir as necessidades programáticas do presente. A premissa é a conservação e recuperação do sistema de construção original, a alvenaria de pedra, a estrutura interior e acabamentos de madeira e a telha em cerâmica tradicional. Intervém-se nos vãos, regularizando a sua escala e ritmo, criando uma imagem assumidamente contemporânea.
Na continuidade do edifício original  encontra-se uma ruína em pedra, sendo o ponto estratégico da composição dada a sua localização central. Permite a articulação do edifício pré-existente ao novo corpo a construir no socalco inferior e integra a área de recepção do empreendimento. O volume “brota” da ruína como uma caixa de betão dentro de uma ruína de pedra, uma estratégia que sugere que o novo se submete à presença da ruína. Sendo esta articulação também feita pela materialidade entre a pedra existente e a nova intervenção em betão.

O novo volume do lado sul é desenhado para incorporar as áreas comuns do edifício. Assume-se “enterrado” no próprio socalco, como uma reinvenção e integração na paisagem construída. A intenção é desenhar um edifício recatado e sem protagonismo, de uma escala que não entre em conflito com o edifício original e a paisagem (vistas). É por isso que se enterra, como se “brotasse” do próprio socalco, cedendo a sua própria cobertura enquanto átrio de entrada. Átrio esse que pode permitir algum evento ou acrescentar valor ao momento de entrada/chegada ao empreendimento. A sua fachada é emoldurada pelos muros pré-existentes e abre-se um grande envidraçado para contemplação da paisagem. Vista de cima (rua) e de baixo (zona da piscina), a ampliação oculta-se; a cobertura e a fachada perdem destaque pelos desníveis dos socalcos e integração no lugar, convidando o utilizador a descobri-lo. A leitura deste projecto é definida pela secção transversal, pelo minimalismo e subtileza das novas formas em detrimento da integração com a envolvente.

A diferente materialidade entre o edifício original (pedra) e a nova intervenção (betão) é aplicada ao longo da composição formal, numa simbiose entre “o novo e o velho”, assumindo a distinção entre os dois tempos do objecto de arquitectura. Deste diálogo obtemos uma experiência que valoriza a natureza do lugar mediante as novas intervenções, enquanto volumes silenciosos que não chocam com o existente.  A escolha do betão vem reforçar esta premissa pela sua característica pétrea, neutra e contemporânea, sem se sobrepor ao edificado existente. A qualidade da materialidade é reforçada também nos detalhes, como a escolha de mobiliário com características e materiais artesanais (como o barro, o vime, o rattan, e a madeira) que complementam a atmosfera de alojamento rural.
A Quinta Avial é uma obra que denota sensibilidade entre o existente e a assumida intervenção contemporânea. O projeto escreve a história atual sem perder a leitura das histórias passadas – onde nós tocamos deixamos o nosso traço, num registo subtil, respeitando o legado existente.