Rubrica – A Casa do Séc. XXI – #1 Espaços Exteriores da Habitação

Casa J, em Albergaria-A-Velha, do atelier Frari, com fotografia de  Ivo Tavares Studio.

Os exteriores são dos espaços mais versáteis da habitação, podendo ser facilmente transformáveis e admitir novos usos, apenas com recurso a pequenas intervenções.
Quer se trate de um grande ou pequeno logradouro, de um terraço, ou até de uma pequena varanda, cada utilizador poderá moldá-lo à sua imagem, para usufruir das mais variadas formas de relação interior/exterior.

Se, até então, não dávamos o devido valor às varandas, terraços, ou jardins – devido ao acelerado estilo de vida e ao pouco tempo passado em casa – com o confinamento passámos a olhar para estes espaços de forma diferente – revelaram-se uma “joia”!

Segundo o estudo realizado pela JLL (Nova vida, nova casa?), 49% dos inquiridos transformaria a sua habitação devido à pandemia, sendo que 34% modernizaria o espaço exterior. Já em relação à procura de uma nova habitação, a aquisição de um imóvel com um espaço exterior privado, foi a condição que ganhou maior importância depois do confinamento. Percebemos o impacto que estes espaços têm na nossa saúde física e mental, e disso seguramente não iremos abrir mão!

Então, como serão os espaços exteriores da nossa casa amanhã? Com ou sem vegetação? E que tipo de vegetação? Com ou sem área para refeições? E como deve ser esta área, coberta? E de que tamanho? Com ou sem área de preparação de comidas? E existirão zonas lúdicas para crianças e para a prática desportiva?

Estas e outras questões levantam-se na hora de imaginar/criar o nosso espaço exterior privado. Mas desengane-se quem pensa que estes “sonhos” apenas têm lugar para os residentes em habitações unifamiliares, já que os edifícios multifamiliares têm igualmente o direito, e dever, de explorar esta mais-valia!
As “famosas” marquises, por exemplo, terão a sua continuidade ameaçada? Ou a falta de espaço irá permitir a continuidade destes espaços ambíguos e claustrofóbicos?

Os espaços exteriores, quando devidamente trabalhados, são a garantia de uma adequada ventilação e iluminação dos espaços interiores, para além de proporcionarem o equilíbrio entre o aquecimento e arrefecimento desses mesmos espaços, tornando-os mais higiénicos, confortáveis e humanizados. Por isso, muitas são as vantagens de apostar numa arquitectura inclusiva no sentido de fomentar o equilíbrio entre os “cheios e vazios”.

Mas atenção! Não é necessário criar uma “floresta vertical” na varanda, para nos sentirmos num espaço exterior com qualidade, porque isto é tão desproporcional, como descabido!
Veja-se o que aconteceu no complexo de 8 edifícios construídos na cidade de Chengdu, na China, onde a intensa vegetação das varandas-terraço atraiu mosquitos que, por sua vez, afastaram os moradores. Isto depois destes terem investido muito dinheiro na promessa de um “oásis urbi-tropical”. A natureza requer respeito e sensatez, por isso, para espaços pequenos – pequenas soluções!

 

Texto de: Maria Fradinho