Casa Dom Jorge

Tipo: Reabilitação de habitação unifamiliar
Cliente: Privado
Localização: Aveiro, Portugal
Estado: A decorrer
Autor do Projeto: Maria Fradinho
Equipa: Cristina Paião, Daniel Antunes, Ivan Dušević, Sara Garcia

Data de Projeto: 2025
Área do Terreno: 216 m2
Área de Implantação: 113 m2
Área Bruta de Construção: 227 m2
Autor do Projecto Original: Desconhecido
Artista 3D: Alan Costa

Este projeto visa o restauro e reabilitação de uma moradia de estilo eclético português, e com forte influência da arquitetura tradicional de Aveiro, construída entre finais do séc. XIX e inícios do séc. XX. em pleno bairro histórico da Beira- mar, no centro de Aveiro, numa rua que dá nome ao projeto.

A encomenda tinha como objetivo dar uma nova vida à moradia, sem com isso abdicar do seu estilo original.
Foi, portanto, fundamental a preservação integral da fachada frontal, claramente mais trabalhada e com forte influência da tradição decorativa portuguesa, com o uso de azulejos de padrão geométrico na parte inferior da fachada, que foram devidamente restaurados. Por outro lado, optámos por eliminar por completo os azulejos tipo pastilha da parte superior da fachada, resultado de alterações ao longo do tempo, por se considerarem desajustados em relação ao estilo original e uma opção infeliz para o conjunto. A sua remoção permite ainda uma melhor reabilitação dos rebocos de fachada, garantindo a durabilidade da mesma.
As cantarias, a cornija e restantes elementos ornamentados desta fachada foram mantidos e restaurados na íntegra.
A imponente porta central é mantida e tratada, sendo apenas proposta com acabamento em madeira natural, de tom escuro, sem pintura, por forma a ser coerente com o estilo original, mantendo ainda o vidro trabalhado.
Por outro lado, as janelas são todas substituídas por elementos novos, com desenho original, e também de madeira, mas pintadas de branco, para maior leveza do conjunto e durabilidade das mesmas, mas com vidro duplo, para garantir melhor conforto térmico.

Nesta fachada, contudo, há um elemento que nos chama a atenção e que de resto nos serve de inspiração para um trabalho na fachada posterior, nomeadamente as pequenas guardas em ferro forjado, cujo motivo decorativo subentende a transição de estilos do Ecletismo para a Arte Nova.

Esta moradia admite características típicas da arquitetura urbana residencial portuguesa desse período não apenas na fachada frontal como ainda nos interiores. Desta forma, a intervenção foi cautelosa nas alterações a propor, com vista modificar o mínimo possível, garantindo a devida manutenção das compartimentações e seus acabamentos interiores.

Apesar do respeito pelos interiores, é proposta a sua transformação cromática, onde todas as carpintarias, nomeadamente  rodapés, molduras e portadas dos vãos interiores, frisos, boiseries e restantes elementos decorativos, são tratadas e pintadas de branco, cor que é também opção para a grande maioria das paredes e tetos da moradia. A exceção a esta regra é a sala de estar, que se propõe totalmente em cor terracota, com o intuito de proporcionar aconchego e envolvência.
O piso em soalho natural de pinho é mantido em toda a moradia, sendo apenas necessário o devido tratamento e posterior envernizamento mate. Por sua vez, novos tetos falsos são adicionados, em gesso cartonado, uma vez que a moradia era desprovida de trabalhos em estuque nos tetos, garantindo assim melhor conforto térmico e acessibilidade técnica para tubagens e cablagem.

Quanto às alterações significativas no interior, resumem-se na demolição de 2 paredes no piso 1, para assumir um espaço digno para a zona comum (sala de jantar e cozinha), assim como a construção de novas paredes em gesso cartonado para a criação de 1 instalação sanitária de serviço no piso 1 e de 2 instalações sanitárias completas no piso 2, por forma a cumprir com as espectativas programáticas (moradia T4+2).

Apesar disto, a intervenção contemporânea vem a manifestar-se no tardoz da moradia, através da opção de demolir os anexos ilegais pré-existentes e transformar por completo a fachada e pátio posterior.
Aqui, resolve-se a diferença de cotas entre as duas plataformas pretendidas – uma para estar, à cota da moradia; e outra para estacionar o carro, à cota da rua posterior – através de patamares sobre vegetação que fazem um agradável percurso pelo jardim até chegar à moradia.
Estes patamares, revestidos a tira romana de cor bege, disposta em espiga, refletem o ambiente confortável e sereno deste espaço exterior, que é desenhado para ser complementar ao uso da habitação. A presença de vegetação no solo, assim como em vasos elevados, permite uma paisagem verdejante desde a moradia, apesar da descida de mais de 1m do terreno, ao mesmo tempo em que garante a devida ocultação dos veículos, assumindo um ambiente mais natural para a perspetiva desde a casa.
A fachada posterior, que havia sido intervencionada ao longo dos anos, sofre uma depuração, com a eliminação de vãos e paredes sem qualidade (em forma de marquise), assim como a correção de escala e posicionamento de outros vãos.

A demolição destes elementos permite a criação de uma varanda para os quartos, em negativo no volume, e adiciona-se uma nova varanda em positivo, ambas com guardas em ferro forjado, e desenho inspirado nos elementos em ferro da fachada frontal, todas à cor corten, de forma a garantir que apesar de recente, esta intervenção respeita a fachada frontal original, integrando-se numa só proposta arquitetónica.
A Casa Dom Jorge é intervencionada como um todo, onde a história da sua evolução permanece de mãos dadas.