Rubrica – A Casa do Séc. XXI – #2 Espaços Comuns da Habitação

Casa do Arco, em ílhavo, do atelier Frari, com imagem de Ivo Tavares Studio.

As áreas de convívio de uma habitação, permitem a articulação entre os momentos de grande dinâmica familiar e os de maior individualidade. Estes espaços, garantem a amplitude de vivências diárias dos ocupantes daquele edifício e definem o núcleo da casa.

As múltiplas necessidades dos dias de hoje, e as mudanças que tal “efervescência” exige no nosso habitar, fazem do planeamento destes espaços a garantia necessária à longevidade e sucesso da nossa casa.

Segundo o artigo de investigação do Centro de Inovação em Arquitectura e Modos de Habitar da Universidade do Porto, publicado no Frontiers of Architectural Research (2018), 29% das necessidades de mudança de habitação “estão ligadas à variação no número de pessoas (por exemplo, mudanças na estrutura familiar ou para acomodar indivíduos extras)” e 19% estão ligadas à função “seja trabalho ou outro”.

Quer seja por alterações ao núcleo familiar, como pela necessidade de implementação de novos usos, ou pela simples necessidade de receber um maior número de ocupantes, ainda que temporariamente, as áreas comuns da habitação requerem, cada vez mais, um desenho flexível e adaptável, que nos permita ampliar as possibilidades de articulação e distribuição dos espaços, de forma espontânea e assertiva com as necessidades do dia-a-dia.

A evolução tecnológica, social, cultural, e económica pressiona, por um lado, a que as áreas habitacionais sejam cada vez menores e, por outro lado, que estas permitam um maior número de opções e configurações. O espaço de teletrabalho será, por ventura, um dos novos paradigmas da Casa Do Séc. XXI., integrando-se na mais recente lista de compartimentos indispensáveis à habitação.

Para ser evolutiva, a arquitectura não tem necessariamente de ser modular, ou ter prevista a sua ampliação, ou redução; requer apenas disciplina nas definições volumétricas, formais e espaciais da habitação, assim como uma forte aposta num mobiliário adaptado e, ainda, com recurso a compartimentações amovíveis ou móveis (que recolhem, rebatem, ou deslizam).

A polivalência da área comum foi uma das pretensões do projeto da Casa do Arco, onde o recurso a uma compartimentação rebatível entre a garagem e a sala, permite que parte da sala seja utilizada como acesso de viaturas ao logradouro e, noutros momentos permite, por sua vez, que a garagem seja “apropriada” pela sala, para dar lugar a eventos com um maior número de ocupantes.

Quer seja por força de alterações nas atividades diárias, ou de atividades sazonais, a adaptabilidade da habitação, sobretudo dos seus espaços comuns, é inevitável para uma sociedade em constante mutação.

 

Texto de: Maria Fradinho